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Por que ainda precisamos falar sobre Consciência Negra?
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Apenas 4,7% dos cargos executivos são ocupados por negros. Precisamos continuar trabalhando em prol do aumento de lideranças pretas nas organizações.
Por Dilma Campos Publicado em 20 de novembro de 2023
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Esses dias me peguei refletindo os motivos pelos quais ainda precisamos ter um dia dedicado à Consciência Negra (20 de novembro) para falar sobre a importância da diversidade e da inclusão nas empresas e na sociedade.
Em primeiro lugar, devido à discrepância entre os 56,1% de pretos e pardos da população brasileira e a representatividade de negros no mercado de trabalho. De acordo com um levantamento do Instituto Ethos nas 500 maiores empresas do país, apenas 4,7% dos cargos executivos são ocupados por negros. Se falamos de mulheres negras, a representatividade é ainda mais baixa, apenas 0,4% ocupam essa posição.
A desigualdade é ainda maior quando olhamos para a renda desses profissionais. De acordo com o IBGE, o rendimento médio mensal das pessoas brancas é 73,9% superior ao da população preta ou perda, com níveis de escolaridade semelhantes.
Precisamos ainda falar sobre Consciência Negra quando nos deparamos com o racismo estrutural enraizado na sociedade e nas empresas que leva à manutenção de critérios nos processos de recrutamento e seleção que privilegiam a contratação de pessoas brancas, como por exemplo exigir inglês fluente para vagas que não necessitam do idioma, ou vivência internacional. Será que habilidades comportamentais como resiliência, perseverança e criatividade não são muito mais relevantes para a função do que os critérios anteriores?
Precisamos continuar trabalhando em prol do aumento de lideranças pretas nas organizações, como a proposta do Movimento Raça é Prioridade do Pacto Global da Ano, cuja ambição é alcançar 1500 empresas comprometidas em ter pessoas negras em posição de liderança.
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É preciso continuar falando sobre a importância da intenção e de programas afirmativos, porque sem mudar o status quo não conseguimos quebrar preconceitos enraizados e nos preparar para aceitar o diferente. E o diferente é aquele que soma, que traz uma visão distinta do padrão que todos estão acostumados a ver, que tem um ponto de vista diferenciado, próprio de alguém que vem de uma história de vida completamente distinta da maioria.
Precisamos continuar a falar de Consciência Negra quando nos deparamos com discursos de alguns líderes e empresas que dizem que não contratam mais pessoas negras porque “não encontram profissionais negros qualificados”, sendo que acabamos de completar 11 anos da Lei de Cotas nas universidades que formou muitas pessoas negras qualificadas nos mais diversos cursos e áreas de conhecimento. Detalhe importante: embora na entrada da universidade as notas dos estudantes cotistas sejam 2% a 8% inferiores ao dos não-cotistas (Enem), na saída da universidade a nota média de cotistas é próxima ou até superior à dos demais alunos (Enade).
Outro dado que contrapõe a suposta “falta de qualificação” dos profissionais negros são os 162 mil talentos negros que fazem parte do banco de dados da plataforma de empregos 99 Jobs, sendo 12 mil deles com inglês fluente.
Precisamos continuar falando sobre Consciência Negra enquanto as bases de dados que treinaram a inteligência artificial de diversos softwares de reconhecimento facial não reconhecerem pessoas negras porque a programação foi feita por uma equipe de desenvolvedores brancos, que não se atentou para a relevância da representatividade de diferentes rostos no treinamento da IA.
Precisamos falar sobre diversidade enquanto as campanhas das marcas continuarem a não representar e reconhecer a rica e pulsante diversidade da população brasileira.
A verdade é que precisamos falar sobre isso nessa data, mas também em todos os dias do ano, enquanto não tivermos equidade para a população negra.
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