Cannes Lion e ESG

O que era um namoro em 2022 virou um pedido de casamento. A pauta ESG, que cresceu com muita intensidade na edição do ano passado, está invadindo de vez o aclamado Cannes Lion – Festival Internacional de Criatividade, que comemora sua 70ª edição nos próximos dias 19 a 23 de junho.

Esse movimento segue a tendência das boas práticas sustentáveis ambientais, sociais e de governança que já são pauta obrigatória das principais marcas e agências criativas antenadas com o futuro, atendendo às transformações exigidas pela sociedade. São empresas que estão alinhando seu negócio a um propósito sustentável e que já entenderam que o lucro não pode ser mais obtido a qualquer custo, nem para o planeta, nem para as pessoas.

No ano passado, o Cannes Lion dedicou 2 dos 6 grandes temas ao ESG: “Vale a pena ser verde – Como as marcas podem entregar a sustentabilidade de uma forma mais autêntica e impactante?” e “Representar os sub-representados – Melhorar a tradução de Diversidade, Equidade e Inclusão no trabalho criativo”. Também trouxe ao palco do evento nomes como Edu Lyra (Gerando Falcões), o líder indígena Txai Suruí e a Nobel da Paz Malala Yousafzai, para trazer outros olhares e referências de mundo ao Festival.

Diversas campanhas vencedoras em 2022 também abordaram o tema da inclusão e do impacto ambiental. Das 31 categorias, 28 tiveram Grand Prix relacionados à temática ESG, sendo 80% deles com abordagem social. Cinco cases vencedores de Grand Prix tiveram a temática ambiental como foco.

O que há de novo na 70ª edição?

Em 2023, a pauta ESG está ainda mais em destaque. Pra começar, o Festival declarou que, a partir da edição deste ano, todos os Leões terão de responder qual foi o impacto de cada trabalho inscrito – com exceção das categorias Digital Craft, Film Craft e Industry Craft. O objetivo é levantar o efeito de impacto, eficácia e crescimento de determinado projeto, levando em consideração a variedade de métricas que comprovam a eficácia da criatividade.

A 70ª edição do Cannes Lion escolheu homenagear o fundador da marca de roupas esportivas Patagonia, Yvon Chouinard, com o Lion Heart, troféu que destaca personalidades que usam suas posições para gerar impacto positivo no mundo. Para quem ainda não ouviu falar da marca, a Patagonia é conhecida pelo compromisso com a proteção ao meio ambiente. No ano passado, Yvon, que costumava doar 1% das vendas anuais a entidades dedicadas a combater as mudanças climáticas, anunciou que iria doar 100% dos lucros da companhia para a causa! Esse ousado passo está causando grande impacto no setor, em especial pela frase do fundador ao anunciar a decisão: “A Terra é agora a nossa única acionista”.

Deixei a novidade que considero a mais promissora para o final. Na edição desse ano, os organizadores estão incentivando os participantes a fornecerem informações que descrevam as suas emissões de carbono como parte do processo de produção dos trabalhos inscritos. Os dados coletados serão usados para avaliar as melhores práticas na produção de trabalhos criativos globalmente. Preencher essas informações ainda não é obrigatório, nem tem peso no julgamento em si, mas já mostra uma tendência muito clara de evolução desta métrica para as próximas edições do Festival.

Seria muito simbólico que a organização do Cannes Lion tornasse esse um critério obrigatório para as premiações a partir dos próximos anos. Seria um acelerador incrível para um movimento que já está em andamento no mercado publicitário. Como eu gosto de dizer, o ESG não tem que ficar só no discurso, ele precisa ser praticado nas ações do dia a dia! Quer pegada melhor do que pensar no impacto ambiental que a entrega de um trabalho representa? As marcas e as agências que não ainda não entenderam isso e não estiverem prontas para mudar sua forma de fazer negócios, terão muita dificuldade em sobreviver no futuro.